segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A luta diária contra a doença.

Aos 42 anos, Regiane Mourão enfrentou as dores, o isolamento e as incertezas de uma doença crônica e da possibilidade de morrer. Após a cura, ela acredita que a experiência a ajudou a ver a morte com mais naturalidade
FOTO: KID JÚNIOR.
O diagnóstico de um câncer pode ser uma sentença de morte, mas também uma chance de testar os próprios limites.

A matéria é extensa, mais é muito importante. Leia.

Bonita, jovem, cheia de alegria. E até semana passada, portadora de um linfoma. A administradora Regianejaneiro deste ano que tinha câncer no sistema linfático, uma doença crônica e que poderia ser fatal. No auge da vida e da estabilidade, ela diz ter descoberto neste momento que todas as forças e certezas falhavam diante da possibilidade do próprio fim.

"Primeiro, eu tive um choque emocional muito grande, porque eu estava em plena atividade, tenho um filho de oito anos e fiquei pensando quem iria cuidar dele se eu faltasse. E eu não aceitei bem, foi muito desesperador. Porque quando se ouve a palavra câncer, o que a gente pensa é numa doença em que você tem muito pouco tempo de vida. E que vai morrer", revela.

Após o diagnóstico, Regiane iniciou o tratamento com quimioterapia e acompanhamento de uma psicóloga especializada em pessoas com doenças crônicas. Apesar do apoio incondicional da família, percebeu o afastamento de algumas amigas. As pessoas pareciam ter um certo desconforto em relação ao seu estado, o que agravava seu lado emocional. E mesmo dispondo dos meios médicos necessários, Regiane não conseguia melhorar. Como a crônica de uma morte anunciada.
 

"Eu chorava muito, fazia a quimioterapia chorando, não conseguia me conformar. Como o linfoma é influenciado pela questão da imunidade, isso atrapalhava o meu tratamento. Foi através da enfermeira que cuidava de mim que eu conheci a terapia quântica, e resolvi trabalhar esta abordagem junto com o cuidado tradicional".

Aprender a respirar


Para os céticos, pode parecer simples, banal. Mas foi através de exercícios de respiração e relaxamento que Regiane foi retomando a esperança. "Quando a gente tem uma doença dessas, você começa a avaliar a vida, pensar no que fez, no que deixou de fazer. Mas a terapia me ajudou a reencontrar o equilíbrio, e eu me tornei mais amadurecida e forte, mesmo com os sofrimentos da doença".

A perspectiva diferenciada sobre doença e capacidade de cura da terapia quântica permitiram que ela parasse de focar na doença, suas angústias e sofrimento, para se concentrar nas coisas simples, porém essenciais, como o ato de respirar.

"Durante a doença eu sentia muito incômodo de lado. O médico dizia que a dor era normal, que fazia parte do problema e passava analgésico. Mas eu não gostava de tomar remédio porque já tomava muita química, e também não queria ficar dopada. Com a terapia, o relaxamento e o processo de toque, os incômodosRegiane.
desapareceram", recorda.

Recomeço.

Na última semana, a boa notícia: os exames não detectavam mais células cancerígenas. Agora, a administradora busca se recuperar dos efeitos da quimioterapia. E as pessoas também vão se reaproximando. "Eu tinha uma grande amiga que agora me disse que não conseguia chegar perto de mim durante a doença, que não sabia o que dizer. Não levei para o lado do preconceito, tive mais pena das pessoas que não conseguiam lidar com isso", avalia.

Aos poucos, ela vai retomando a vida. Enquanto o cabelo não cresce, enfeita-se com lenços e chapéus. Faz-se bonita para os outros e para si. Sorri, apesar de tudo. Como viu recentemente a mãe ter uma recaída de um câncer curado alguns anos antes, Regiane sabe que é uma doença traiçoeira, e que pode voltar. Porém, descobriu que a morte sempre esteve por perto, a diferença é que antes não se fazia sentir.

"Eu não sei se a gente consegue se preparar para uma recaída. Hoje, eu posso dizer que vejo a morte com mais naturalidade. É uma coisa que você tem que sempre buscar e se conscientizar, de que morrer faz parte da vida. O que eu aprendi com esta experiência é que precisamos viver o agora. Claro, é importante fazer planos, mas também viver este momento, não deixar as coisas para depois".


Superação

"Quando se ouve a palavra câncer, pensa logo que tem pouco tempo de vida"

"Hoje, eu posso dizer que vejo a morte com mais naturalidade"

Regiane Mourão
Administradora


ANÁLISE

Preparação para o luto

"Nós, que vamos morrer, te saudamos". Era dessa forma que os gladiadores romanos saudavam o imperador antes da carnificina das arenas. Mas, do imperador ao simples vassalo, a única certeza é de que todos os homens são mortais. E como os únicos seres conscientes da sua própria finitude, a agonia e a morte são temas duros de enfrentar. Hoje, num mundo em que se alcançou a cura de tantas doenças, é difícil ter empatia com aqueles acometidos por doenças crônicas e terminais. A morte não é algo bonito de se ver. Envolve dor, medo, revolta, e por isso tentamos esconjurar ao máximo o fato de que ela nos ronda desde o dia em que nascemos. Nesse sentido, a medicina paliativa sinaliza uma nova postura dos profissionaiscrúcis do corpo, podem nos encarar e dizer: "Nós, que vamos morrer, saudamos aqueles que vão morrer".

Karoline Viana


TERAPIA QUÂNTICA

Quando a medicina chega ao limite

Mesmo com a busca de uma perspectiva mais humanizada para o tratamento de doentes crônicos ou terminais, não é à toa que o termo paliativo inspire uma sensação de "aquilo que não tem mais jeito". No dicionário, paliativo significa encobrir, mascarar, disfarçar. E na acepção médica, é entendido como o tratamento que alivia o sofrimento, que controla os sintomas, mas não cura.

"Como é possível dizer que uma pessoa, mesmo com uma enfermidade grave, não pode ser curada? Se formos pensar, todas as pessoas são terminais, porque todos nós vamos morrer. Há casos em que o médico diz que uma pessoa é terminal, mas ela vive um, dois anos a mais que o esperado. Mesmo assim, ainda é considerada terminal", questiona Harbans Lal Arora, professor de física quântica e que defende a aplicação desta abordagem na cura de doenças, mesmo as mais graves.

Há 15 anos, Harbans Arora trabalha terapias complementares com pacientes portadores de algum tipo de enfermidade, crônica ou não. Nesse período, já trabalhou com pacientes com câncer, Acidente Vascular Cerebral (AVC), portadores do vírus HIV, entre outras patologias, e segundo ele muitos conseguiram ficar curados ou ter uma sobrevida maior do que a prevista pelos médicos.

De acordo com o terapeuta, a partir de exercícios de respiração, relaxamento e meditação, o trabalho pode ter o caráter de prevenção, tratamento ou mesmo de amenizar a dor e o sofrimento nos momentos finais de uma doença.

Complementar

Harbans Arora destaca que a prática da terapia quântica não busca se contrapor à alopatia, que o terapeuta considera importante e necessária, porém insuficiente para dar conta da complexidade do ser humano.

"A medicina atual é muito baseada na visão cartesiana, em que o paliativo só deve ser aplicado quando o paciente está desenganado, quando não há mais nada o que fazer. O que eu defendo é que o alívio do sofrimento e a abordagem humanizada devem ser aplicados já no início do problema", explica o terapeuta.

A abordagem quântica é baseada na visão de que o corpo é feito não apenas por componentes físicos, mas também por energias sutis. Energias que, mesmo não podendo ser mensuráveis, influem na saúde do indivíduo. Para além de denominações religiosas ou crenças, o terapeuta acredita que o tratamento deve envolver o homem em sua forma mais integrada, mais subjetiva da saúde.

O professor atenta, no entanto, que não se trata de algo que só ele pode oferecer. "A terapia busca uma relação de interdependência entre o terapeuta e o paciente, dando-lhe os elementos para alcançar a cura".

Nenhum comentário:

Postar um comentário